“Offerecer um gramophone é chiq”: Apontamentos sobre a história da música gravada em Portugal
Leonor Losa
29 de Novembro de 2014, 16h00
Serviço de Fonoteca, Biblioteca Orlando Ribeiro
O mercado de discos e bens associados ao consumo de música gravada começou a configurar-se em Portugal a partir de 1900. Apesar da caracterização enquanto país “semi-periférico”, este processo acompanhou fenómenos paralelos acontecendo em países problematizados enquanto centrais. Contudo, a recepção da música gravada não se desenvolveu de modo linear e contou com dinâmicas locais muito particulares, que distanciam Portugal de outros contextos internacionais. Mediados pelo signo da modernidade, os produtos fonográficos instalaram-se no comércio local associados a outras mercadorias tecnológicas. Embora tenham sido discursivamente construídos pelas empresas que os comercializavam enquanto signos de distinção social, a sua recepção social aconteceu de modo silencioso no seio de uma classe intermédia. Durante as primeiras duas décadas do século XX a música gravada estava apartada da classificação de produto cultural, cenário que se transfigura com a entrada nos anos 30. Ao longo desta palestra vou tentar expor as principais figuras no desenvolvimento deste mercado (lojistas, intérpretes de gravação, compositores etc), as implicações das transformações tecnológicas dos sistemas de gravação e reprodução sonora, os reportórios gravados, e os modos como socialmente a música gravada foi sendo recebida no país, na primeira década do século XX. Acompanhando a exposição, teremos oportunidade de ouvir alguns discos gravados na primeira década do século XX, bem como de observar documentos do período que são fascinantes tanto pelo seu conteúdo histórico, quanto pela dimensão estética que lhes é associada.
Biografia
Leonor Losa é investigadora e doutoranda na Universidade Nova de Lisboa. Tem desenvolvido reflexão em artigos publicados, livros e colóquios sobre a música e a indústria discográfica em Portugal, em particular sobre as dimensões políticas, estéticas e discursivas que subjazem a música popular no país historica e contemporaneamente. Focando a mudança no campo da música popular e as suas articulações com as dimensões sociais e institucionais, trabalhou o papel desempenhado pelo editor Arnaldo Trindade e a editora Orfeu no período pré-revolucionário, no processo de emergência de valores sociais de oposição no seio da “música popular portuguesa”. Mais recentemente, integrando o projecto do Instituto de Etnomusicologia “A Indústria fonográfica em Portugal no século XX”, trabalhou as dinâmicas de implantação do mercado discográfico em Portugal e a mobilidade social da música gravada nas primeiras décadas do século XX, investigação que resultou no livro “Machinas fallantes”: A música gravada em Portugal nas primeiras décadas do século XX (Tinta da China, no prelo).
Colaborou na Enciclopédia da música em Portugal no séc. XX (coord. Salwa Castelo-Branco), onde conta com diversos textos.
Actualmente trabalha a intersubjectividade e a criatividade na produção da world music no contexto do sul da Europa.